Crónica: Economia Verde e Circular

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Economia Verde e Circular


História das Ideias Económicas e Surgimento da Economia Verde

A economia verde, também designada por economia ecológica, constitui um paradigma fundamental para a articulação do desenvolvimento económico com a conservação ambiental e a justiça social, inserindo-se no escopo mais amplo do desenvolvimento sustentável. Este modelo surge da crescente consciência das limitações físicas do planeta e das profundas desigualdades sociais, propondo uma transformação estrutural dos sistemas económicos para harmonizar sustentabilidade ecológica, inclusão social e prosperidade equilibrada. 

Historicamente, os sistemas económicos centraram-se no paradigma do crescimento ilimitado, influenciado por pensadores clássicos, como Adam Smith, que privilegiaram os mercados livres e a acumulação de capital. Para estes modelos, a natureza era vista como um recurso abundante e inesgotável, desconsiderando o impacto cumulativo do crescimento sobre os ecossistemas. A revolução industrial acelerou este processo, gerando um ciclo produtivo e consumista que tem hoje sérias consequências ambientais. 

Foi sobretudo no século XX que a consciência sobre os limites do crescimento se instabilizou no pensamento económico e social. Desastres ambientais e reportagens científicas revelaram a insustentabilidade do modelo estabelecido. O relatório “Limites ao Crescimento”, do Clube de Roma, em 1972, assinalou que os sistemas planetários não permitem o crescimento económico e populacional exponencial de modo indefinido sem risco de colapso ecológico. O movimento ambientalista que se seguiu pressionou para a inclusão das preocupações ambientais na agenda pública. 

A Comissão Brundtland, no relatório “Nosso Futuro Comum” de 1987, definiu formalmente o desenvolvimento sustentável — para satisfazer as necessidades presentes sem comprometer as gerações futuras. Este conceito tornou-se a base para as políticas globais, dando origem à economia verde que visa sintetizar o crescimento económico, a justiça social e a sustentabilidade ambiental. 
Neste contexto, a economia verde assume-se como uma proposta de reorganização dos processos produtivos, comércio e políticas públicas, de modo a garantir uma relação equilibrada entre as dimensões económica, social e ambiental, afastando-se do modelo linear que justificava a exploração infindável dos recursos. 

Funções da Economia Verde e Transição Sistémica 

A economia verde abrange múltiplas funções, refletindo a sua natureza holística. Entre as suas principais funções destacam-se a promoção do uso sustentável de recursos naturais, a mitigação das alterações climáticas, a promoção da inclusão social e a estimulação da inovação tecnológica. 
No que concerne aos recursos naturais, a economia verde propõe a sua utilização racional, garantia da regeneração dos ecossistemas e valorização dos serviços ambientais — a 
purificação do ar, regulação da água e conservação da biodiversidade. Isto implica uma transição energética para fontes renováveis e eficiência energética que reduzam a dependência dos combustíveis fósseis. 

A promoção da justiça social é igualmente fulcral, assumindo que o crescimento económico não deve beneficiar apenas um segmento restrito da população, mas sim diminuir as desigualdades, criar empregos verdes e assegurar o acesso a necessidades básicas. Esta finalidade exige reformas integradas nas políticas sociais e económicas que incluam educação ambiental e participações comunitárias. 

O estímulo à inovação tecnológica sustentável traduz-se na promoção da investigação e desenvolvimento de soluções que minimizem impactos ambientais e maximizem a circularidade dos recursos. Estes avanços tecnológicos são essenciais para criar alternativas aos modelos tradicionais e para aumentar a eficiência económica. 

Para concretizar esta transformação, são necessárias reformas a nível político, económico e social. Estas incluem a adoção de políticas públicas que regulamentem a proteção ambiental, introduzam instrumentos fiscais verdes como impostos sobre a poluição e incentivem práticas inovadoras. A mobilização financeira para projetos sustentáveis e a implementação dos critérios ESG nas decisões de investimento são também imperativos. 

Culturalmente, é essencial reforçar a educação e consciencialização ambiental para capacitar cidadãos e consumidores a adotar estilos de vida responsáveis, fomentando mudança de hábitos e participação social. 

Economia Circular, Design e Economia Donut 

No centro da economia verde, destaca-se a economia circular como modelo regenerativo e revolucionário. Face ao tradicional sistema linear de “extrair-produzir-consumir-descartar”, a economia circular propõe um sistema em que materiais e produtos circulam continuamente, prolongando o ciclo de vida dos recursos, reduzindo resíduos e descongestionando a pressão sobre o meio ambiente. 

Inspirada nos processos naturais, que funcionam através de ciclos onde nada se perde, esta abordagem promove a reutilização, reciclagem, recuperação e regeneração como princípios fulcrais. O sucesso da economia circular depende, em grande parte, do design dos produtos, no qual o design circular assume importância estratégica. 

O design circular implica conceber produtos com durabilidade, reparabilidade e reutilização em mente, permitindo que sejam desmontados, atualizados ou reciclados. Por isso, o design integra questões técnicas, estéticas e ambientais, promovendo a colaboração entre designers, engenheiros, fabricantes e consumidores para desenvolver soluções sustentáveis. 

A imagem da Economia Donut, criada pela economista Kate Raworth, fornece uma representação gráfica poderosa que sintetiza a ambição da sustentabilidade integral. O “donut” é composto por um limite social que garante um nível mínimo de vida digno a todos 

e um limite ambiental que representa os limites planetários intransponíveis. A área entre estes limites é o espaço onde a economia deve operar para assegurar prosperidade justa e sustentável. 

A economia circular situa-se dentro deste espaço seguro do donut, promovendo modelos económicos que operam respeitando os limites ambientais e promovem a equidade social. Assim, o design consciente e a circularidade tornam-se instrumentos centrais para criar economias mais resilientes, inovadoras e justas. 

A COP 25-30 em Belém e o Futuro da Economia Verde 

As Conferências das Partes (COPs) da Convenção-Quadro das Nações Unidas para a Mudança do Clima são o principal fórum internacional onde a humanidade debate soluções para o aquecimento global. A COP 25-30, que terá lugar em Belém no próximo mês, surge como um evento crítico para acelerar compromissos e traduzir-os em ações concretas no combate às mudanças climáticas. 

Esta conferência enfrenta expectativas elevadas, destacando-se o reforço dos compromissos nacionais de redução de emissões para alcançar a neutralidade carbónica até 2050, a mobilização de fundos para adaptar os países mais vulneráveis e a proteção da floresta amazónica, vital para a captura de carbono. 

Paralelamente, a COP em Belém tem ainda o desafio de integrar o setor privado e a sociedade civil, promovendo parcerias e diálogos que potencializem a implementação de práticas verdes. Enfatiza-se também a necessidade da justiça climática, que garante o direito e a voz das populações indígenas e marginalizadas na transição energética e social. 

Diversos países e comunidades já evidenciam a viabilidade da economia verde: Portugal publicou metas ambiciosas de energia renovável; dinamarqueses apostam na energia eólica; Costa Rica evidencia compromisso com conservação ambiental; comunidades locais combinam saberes tradicionais com sustentabilidade. 

A mudança exige cooperação global, inovação e compromisso político e social, pois a economia verde representa uma oportunidade única para reorientar o sistema socioeconómico, garantindo um futuro sustentável e equitativo. A COP 25-30 em Belém marca um momento decisivo para que palavras se convertam em ações, consolidando um caminho que respeite o planeta e as pessoas. 

Isabel Prata Coelho