Crónica: Algas Kelp na Praia da Parede
Crónicas do Clube para a UNESCO Livraria + Kairos
Algas Kelp na Praia da Parede
A Praia da Parede, na freguesia da Parede, município de Cascais, destaca-se há mais de um século pelas suas propriedades terapêuticas, especialmente no tratamento de doenças ósseas e na reabilitação física. Esta fama deve-se à combinação única entre a sua geologia, biologia marinha e microclima, que criam condições ideais para a promoção da saúde humana. Desde o final do século XIX, a praia é conhecida pelo seu microclima benéfico, que favorecia a recuperação da tuberculose óssea, o que levou à construção, no início do século XX, de um sanatório ortopédico que hoje integra o Polo Hospitalar de Santana e o Novo Hospital de Cascais. O iodo presente nas águas e a exposição solar sobre as rochas calcárias margosas contribuem para as ações terapêuticas que atraem pacientes e visitantes.
Embora a praia não seja muito apropriada para banhos, especialmente na maré baixa, devido à presença extensa de rochas, essas plataformas rochosas funcionam como solários naturais, facilitando a absorção do iodo essencial para a saúde óssea. Além disso, a argila acumulada nestas rochas é valorizada pelas suas propriedades medicinais, utilizadas em tratamentos cutâneos e articulares.
Um dos maiores valores da zona reside nas algas Kelp, que proliferam nas águas da praia. Estas grandes algas, de cor entre castanho-claro e castanho-esverdeado, formam florestas subaquáticas ricas em minerais como iodo, cálcio, magnésio e ferro, além de conterem vitaminas, aminoácidos essenciais e fitoquímicos de ação antioxidante, anti-inflamatória e imunomoduladora. Esses compostos fortalecem o sistema imunitário, combatem inflamações e promovem a regeneração celular, reforçando o valor terapêutico das águas da Praia da Parede.
Avanços na biologia quântica têm permitido compreender melhor os efeitos profundos dos compostos bioativos destas algas ao nível molecular. Processos quânticos, como alterações no spin de partículas, reações de oxirredução e ressonâncias energéticas celulares, influenciam mecanismos biológicos cruciais, optimizando a função enzimática, os canais iónicos e os sistemas antioxidantes, ao mesmo tempo que modulam respostas inflamatórias e regenerativas. Assim, a ação das algas não é apenas química, mas também energética e informacional, o que explica a sua eficácia terapêutica.
A geologia da praia, rica em calcário margoso, cria substratos estáveis e plataformas ideais para o crescimento das Kelp. A hidrodinâmica local, com marés semi-diurnas, favorece a circulação e oxigenação das águas, assegurando a vitalidade deste ecossistema. O microclima, caracterizado pela exposição solar intensa, temperaturas moderadas e baixa poluição atmosférica, contribui para a síntese natural da vitamina D e para a inalação de ar iodado, reforçando o efeito terapêutico.
Perto da Praia da Parede situa-se a Praia das Avencas, classificada como Zona de Interesse Biofísico e Área Marinha Protegida. Embora não partilhe o valor terapêutico direto da Praia da Parede, é essencial para a biodiversidade marinha, com cerca de 137 espécies identificadas que utilizam a zona como refúgio e local de reprodução. Esta complementaridade entre as duas praias reforça o equilíbrio ecológico da região, assegurando a saúde das florestas de Kelp e a continuidade das propriedades terapêuticas da Praia da Parede.
Entretanto, o ecossistema enfrenta uma ameaça grave: a invasão da alga asiática Rugulopteryx okamurae, que compete agressivamente com as algas nativas, alterando o habitat marinho. Esta espécie invasora compromete a biodiversidade e diminui a qualidade das águas, afetando diretamente a manutenção das propriedades terapêuticas do local.
Para responder a este problema, o município de Cascais promove uma campanha diária de remoção da alga invasora, apesar do seu elevado potencial de expansão. Paralelamente, decorrerão projetos de replantação das algas Kelp, coordenados por universidades e entidades científicas, que envolvem o cultivo laboratorial e o transplante controlado nas rochas da praia. A fixação das algas diretamente nas plataformas rochosas é essencial para preservar o ecossistema e garantir a manutenção das propriedades terapêuticas, assegurando a recuperação da floresta marinha.
O Clube Unesco Livraria+Kairos, dedicado a estudos interdisciplinares e atividades promotoras da transição para o Desenvolvimento Sustentável, sediado na Parede e com enquadramento institucional na Oficina de Desenho, em Cascais, propôs-se à entidade técnico-científica responsável pelos projetos de replantação das algas Kelp a ter uma ação sinérgica neste domínio. O projeto visa articular grupos de voluntários de várias idades que, após uma formação breve mas adequada, poderão desenvolver atividades de proteção e regeneração deste ecossistema, contribuindo para a manutenção das suas qualidades terapêuticas únicas e para uma experiência de grande valor no âmbito da Educação Ambiental.
Assim, a Praia da Parede constitui um exemplo da importância da sinergia entre ecologia, geologia, biologia molecular e processos energéticos na conservação ambiental e no bem-estar humano. Esta praia ilustra como a combinação singular das algas Kelp, do microclima iodado, do substrato rochoso e da exposição solar cria um ambiente terapêutico reconhecido há décadas. Contudo, as atuais ameaças exigem ação conjunta de cientistas, autarcas e população, com o Clube Unesco Livraria+Kairos a desempenhar um papel sinérgico na preservação e recuperação deste património natural ímpar, reafirmando tanto o valor ecológico quanto o terapêutico do local.
Ao unir o saber tradicional aos avanços da biologia quântica, compreende-se a profundidade e o alcance das propriedades terapêuticas da Praia da Parede, cuja recuperação das algas Kelp representa a preservação vital destes sistemas para a saúde da natureza e das pessoas.
Importa referir que este esforço de recuperação destas algas integra já um plano mais amplo de conservação ao longo da costa portuguesa, especialmente em zonas afastadas da rebentação das ondas, que visa restaurar até 2030 as florestas marinhas de Kelp. Estas têm um papel fundamental no ecossistema marinho, funcionando como sumidouros naturais de carbono muito mais eficientes do que as florestas terrestres, promovendo a recuperação dos habitats e dos serviços ecossistémicos relacionados com a saúde humana e ambiental — nomeadamente pela sua contribuição para mitigar as alterações climáticas resultantes do aquecimento global, provocado sobretudo pela pecuária intensiva e pela queima de combustíveis fósseis.
Isabel Prata Coelho
