Sobre os dois projectos no Casino Estoril

Os catálogos da exposição dos dois pintores da Oficina do Desenho na Galeria de Arte do Casino Estoril

MODESTIA LAICA

A imodéstia digressão desta ‘intrusão pelo mundo obscuro e perverso dos Illuminati de ontem e de hoje’, com que Rui Aço nos presenteia nesta exposição, é um claro aviso aos que inadvertidamente o seguem nas suas incursões pictóricas. E que delas emergem com uma renovada compreensão do que pode ser a sua prática artística.

É também um sinal da intenção com que enriquece conceitos, ideias feitas, e da forma como se dispõe a torná-los mais interessantes, sugerindo toda uma panóplia de novas possibilidades nas suas propostas.

Os seus Anjos Frascários, na sua versão desconcertante destes seres que habitam desde tempos ime- moriais a imaginação colectiva, ganham uma nova dimensão neste trabalho. E o humor é a provocação subtilmente sugerida pelo artista para os apreciarmos à luz do seu olhar.

Há sempre mais entre o céu e a terra do que os olhos nos confessam, é o que nos diz Rui Aço através desta incursão entre os eternos mistérios da vida e a sua percepção popular. Muito mais a sair dos seus lápis e pincéis, para quem se proponha a missão de apreciar.

O entusiasmo é a sua velocidade cruzeiro quan- do deita mão a um novo projecto criativo. Apesar da muita experiência com que tempera a forma e os meios, mantém a frescura da descoberta nas abor- dagens que faz. É possível observá-la na força que empresta à mistura de cores, ou no traço sem esforço das suas composições.

Marita Moreno Ferreira

APENAS ENREDOS

Os desenhos e as pinturas da Marita são intervenientes e contundentes, quais firmes palavras. São como vários modos de pensar, ver e fazer no quotidiano das governanças das culturas, no fazer das artes e nos afazeres do aprender/fazendo.

Os desenhos e as pinturas da Marita tanto são espelhos como sonoridades gritando inequívocos recados.

Os desenhos são construídos com a precisão do olhar de lince. Acutilantes, que incomodam como se tivessem alma.

Os desenhos e as pinturas da Marita balançam entre a magia dos afectos, os enigmas da sedução, e as utopias do desejo.

A artista semeia na tecitura dos seus padrões/paisagem as suas inigualáveis criaturas. Meninas, meninos, gentios, bruxas aladas que brincam com peixes que se entrecruzam com serpentes que rodopiam aos ritmos das ondulações florais tão e quase sempre presentes nos mundos de Marita.

APENAS ENREDOS é um desafio é uma proposta a visitar e a fruir num dos seus desassossegados mundos.

Rui Aço